(continuação)
É
claro que cada um dos participantes desta disputa como em tudo que persiste
durante longo tempo - tem a sua parte de razão e a sua parte de equívoco. A
coesão social é uma necessidade, e a humanidade jamais conseguiu, até agora,
impor a coesão mediante argumentos meramente racionais. Toda comunidade está
exposta a dois perigos opostos: por um lado, a fossilização, devido a uma disciplina
exagerada e um respeito excessivo pela tradição; por outro lado, a dissolução,
a submissão ante a conquista estrangeira, devido ao desenvolvimento da
independência pessoal e do individualismo, que tornam impossível a cooperação.
Em geral, as civilizações importantes começam por um sistema rígido e
supersticioso que, aos poucos, vai sendo afrouxado, e que conduz, em
determinada fase, a um período de gênio brilhante, enquanto perdura o que há de
bom na tradição antiga, e não se desenvolveu ainda o mal inerente à sua
dissolução. Mas, quando o mal começa a manifestar-se, conduz à anarquia e, daí,
inevitavelmente, a uma nova tirania, produzindo uma nova síntese, baseada num
novo sistema dogmático. A doutrina do liberalismo é uma tentativa para evitar
essa interminável oscilação. A essência do liberalismo é uma tentativa no
sentido de assegurar uma ordem social que não se baseie no dogma irracional, e
assegurar uma estabilidade sem acarretar mais restrições do que as necessárias
à preservação da comunidade. Se esta tentativa pode ser bem sucedida, somente o
futuro poderá demonstrá-lo.
In
Russell, B. (1977): História
da Filosofia Ocidental, Rio de Janeiro: Cia. Editora Nacional.
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