(continuação)
Todavia,
o resultado foi menos desastroso do que no caso da Grécia, pois as nações que
tinham acabado de chegar ao poder, com exceção da Espanha, se mostravam capazes
de tão grandes realizações como o havia sido a Itália.
Do
século XVI em diante, a história do pensamento europeu é dominada pela Reforma.
r1 Reforma foi um movimento complexo, multiforme, e seu êxito se deve a
numerosas causas. De um modo geral, foi uma revolta das nações do norte contra
o renovado domínio de Roma. A religião fora a força que subjugara o Norte, mas
a religião, na Itália, decaíra: o papado permanecia como uma instituição,
extraindo grandes tributos da Alemanha e da Inglaterra, mas estas nações, que
eram ainda piedosas, não podiam sentir reverência alguma para com os Bórgias e
os Médicis, que pretendiam salvar as almas do purgatório em troca de dinheiro,
que esbanjavam no luxo e na imoralidade. Motivos nacionais motivos econômicos e
motivos, religiosos conjugaram-se para fortalecer a revolta contra Roma. Além
disso, os príncipes logo perceberam que, se a Igreja se tornasse, em seus
territórios, simplesmente nacional, eles seriam capazes de dominá-la,
tornando-se, assim, muito mais poderosos, em seus países, do que jamais o
haviam sido compartilhando o seu domínio com o Papa. Por todas essas razões, as
inovações teológicas de Lutero foram bem recebidas, tanto pelos governantes
como pelo povo, na maior parte da Europa Setentrional.
A
Igreja Católica procedia de três fontes. Sua história sagrada era judaica; sua
teologia, grega, e seu governo e leis canônicas, ao menos indiretamente,
romanos. A Reforma rejeitou os elementos romanos, atenuou os elementos gregos e
fortaleceu grandemente os elementos judaicos. Cooperou, assim, com as forças
nacionalistas que estavam desfazendo a obra de coesão nacional que tinha sido
levada a cabo primeiro pelo Império Romano e, depois, pela Igreja Romana. Na
doutrina católica, a revelação divina não terminava na sagrada escritura, mas
continuava, de era em era, através da Igreja, à qual, pois, era dever do
indivíduo submeter suas opiniões pessoais. Os protestantes, ao contrário,
rejeitaram a Igreja como veículo da revelação divina; a verdade devia ser
procurada unicamente na Bíblia, que cada qual podia interpretar à sua maneira.
Se os homens diferissem em sua interpretação, não havia nenhuma autoridade
designada pela divindade que resolvesse tais divergências. Na prática, o Estado
reivindicava o direito que pertencera antes à Igreja - mas isso era uma
usurpação. Na teoria protestante, não devia haver nenhum intermediário terreno
entre a alma e Deus.
Os
efeitos dessa mudança foram importantes. A verdade não mais era estabelecida
mediante consulta à autoridade, mas por meio da meditação íntima.
Desenvolveu-se, rapidamente, uma tendência para o anarquismo na política e
misticismo na religião, o que sempre fora difícil de se ajustar à estrutura da
ortodoxia católica. Aconteceu que, em lugar de um único Protestantismo,
surgiram numerosas seitas; nenhuma filosofia se opunha à escolástica, mas havia
tantas filosofias quantos eram os filósofos. Não havia, no século XIII, nenhum
Imperador que se opusesse ao Papa, mas sim um grande número de reis heréticos.
O resultado disso, tanto no pensamento como na literatura, foi um subjetivismo
cada vez mais profundo, agindo primeiro como uma libertação saudável da
escravidão espiritual mas caminhando, depois, constantemente, para um
isolamento pessoal, contrário à solidez social.
A
filosofia moderna começa com Descartes, cuja certeza fundamental é a existência
de si mesmo e de seus pensamentos, dos quais o mundo exterior deve ser
inferido. Isso constitui apenas a primeira fase de um desenvolvimento que,
passando por Berkeley e Kant, chega a Fichte, para quem tudo era apenas uma
emanação do eu. Isso era uma loucura, e, partindo desse extremo, a filosofia
tem procurado, desde então, evadir-se para o mundo do senso comum cotidiano.
(continua)
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