quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

André Kertész


André Kertész, 1941. 
Kertész foi um dos pioneiros da chamada "fotografia de rua", onde são registradas pequenas atitudes cotidianas. O fotógrafo húngaro procurava retratar o dia-a-dia das ruas por onde passava procurando sempre encontrar uma nova perspectiva, uma maneira diferente de enxergar aquilo que vemos todos os dias. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A Síndrome Safatle/Dutra



Por: Izaías Almada

O deputado José Genoíno ao declarar em Brasília na última semana, um dia antes da sua posse legal e garantida pela Constituição, que o atual jornalismo brasileiro se transformou em nova forma de tortura dos cidadãos, escancarou para o país a sua divergência com o governo quanto à necessidade de uma reforma da Lei de Meios no Brasil. Não que o tenha feito com essa intenção, o que posso garantir por conhecer o deputado, mas foi o desabafo de um brasileiro que se sente perseguido e injustiçado pela forma com a qual a imprensa e o judiciário trataram a questão do “mensalão” (que ainda não se provou, é bom que se diga) e que mostra claramente a diferença entre os que lutam toda a vida, como dizia Bertolt Brecht, e os que lutam por pouco tempo, em particular aqueles que se deixam levar pelo canto da sereia do poder.
O episódio é emblemático para a agenda política de 2013, ano em que o xadrez eleitoral mexerá suas peças com muito cuidado por parte do governo e – para não fugir ao figurino – incivilizadamente por parte da oposição. A atitude da presidente Dilma, adiando a discussão sobre a Lei de Meios, poderá sair cara ao governo, pois evidencia uma estratégia, se é que se pode chamar assim, no mínimo incoerente para um governo que fala e age democraticamente, promove distribuição de riqueza, é verdade, mas que a distribui desproporcionalmente, considerando-se o número de contemplados, quando despeja milhões e milhões de reais a mais para o maior inimigo da democracia brasileira no momento, a imprensa venal e o oligopólio de seis famílias em que se sustenta.
A tese do “controle remoto”, tão ao gosto da presidente Dilma Roussef, é uma falácia que depõe contra a sua sensibilidade e inteligência. Uma metáfora recorrente e de gosto e constatação duvidosas, que se contrapõe à realidade, pois poderemos mudar de canal, emissora de rádio ou jornal e a má qualidade do que se vê e lê, bem como a manipulação da informação, será sempre a mesma. E nessa manipulação no terreno da política, nos últimos dez anos, a vítima tem sido invariavelmente o governo, em particular o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores.
Para não voltar muito no tempo, basta que olhemos as recentes e indefectíveis retrospectivas das revistas semanais, dos jornalões e dos canais de televisão do ano que findou e lá estará estampada entre outras e sem o menor pudor esta pérola: o ano em que se começou a combater a corrupção no Brasil. Dá para levar a sério? A quem querem enganar? Quem começou combater a corrupção, o STF? De qual corrupção está se falando? A do Banestado… lembram-se? A da lista de Furnas, onde até o assassinato de uma modelo tenta-se encobrir? Da Privataria tucana? Da CPMI Veja/Cachoeira, que não ouviu a bandidagem? E as concorrências para obras do metrô na cidade de São Paulo, a Alston e a corrupção investigadas na Europa? O Rouboanel e inúmeros outros casos de corrupção comprovada contra o patrimônio público em vários estados da federação que sequer são lembrados pela mídia, envolvendo do DEM, O PSDB, o PPS, etc?… A propósito, aguardo com ansiedade o novo livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr.
Chega a ser indecente, para dizer-se o menos, essa tentativa de parte da oposição brasileira em querer tapar o sol com a peneira, esquecendo-se da corrupção em que está atolada até o pescoço e que já ultrapassou há tempos qualquer limite de irresponsabilidade, e querer imputá-la aos seus principais adversários. Tudo sob o exercício do jornalismo irresponsável e de mão única, selvagem e mentiroso, esse que a presidente procura defender sob argumentos pouco sólidos.
E assim entramos em 2013. Dúvidas, esperanças, temores. Cada ano novo se inicia da mesma maneira para qualquer um de nós. Aos mais velhos resta a amargura de ver que pouca coisa muda no terreno das esperanças, que aumentam as dúvidas e – dependendo do otimismo ou do pessimismo de cada um – revigoram-se os temores.
O mundo continua a digerir a crise econômica iniciada em 2008, com o governo de muitos dos principais países ricos ainda às escuras e às apalpadelas, buscando apagar o incêndio, mas sem saber se não sobram brasas adormecidas que o possam reacender sob pequenos ventos a surgir não se sabe bem de onde. A propósito, recomendo a leitura do artigo do economista Paul Krugman e se encontra traduzido no portal Carta Maior.
O estrago causado pelo neoliberalismo econômico com as suas teses de estado mínimo e mercado máximo, os prejuízos causados a milhões de trabalhadores na Europa, nos EUA, parte da Ásia e África, o salve-se quem puder geral, mesmo com o surpreendente desempenho da América Latina nesse novo cenário nos últimos anos, configuram o traçado de uma nova geopolítica de atenção, com viés de sinal amarelo, deixando a humanidade em suspense e ansiosa para o que poderá acontecer nesse 2013 que se inicia.
O estado de saúde de dois grandes líderes, Nelson Mandela e Hugo Chávez, não trazem bons augúrios, bem como a possibilidade de nova intifada na Palestina. Por aqui, teremos que aguentar a direita relinchar pelas páginas dos jornais, câmeras de televisão e microfones de rádios, destilando o seu veneno de falsa democracia e exercendo (ou impondo) o seu direito de crítica sem resposta, num dignificante exemplo de como entende e pratica da democracia.
Imoral não é a posse do deputado José Genoíno, como querem alguns, inclusive em nichos de esquerda. Imoral é atacar a democracia pelas costas, desrespeitar a constituição e vender o Brasil por trinta dinheiros, tentando se criar um clima de violência e insegurança. Exigir a autocrítica e a renúncia de homens como Genoíno e Dirceu pode, a princípio, parecer um ato de sabedoria política, mas no fundo implica em aceitar a condenação imposta por um julgamento de exceção, por um tribunal de atitudes parafascistas. E com o fascismo, todo cuidado é pouco! Venha ele de onde vier…

Izaías Almada, mineiro de Belo Horizonte, escritor, dramaturgo e roteirista, é autor de Teatro de Arena (Coleção Pauliceia da Boitempo) e dos romances A metade arrancada de mim, O medo por trás das janelas e Florão da América. Publicou ainda dois livros de contos, Memórias emotivas e O vidente da Rua 46.Como ator, trabalhou no Teatro de Arena entre 1965 e 1968.

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Charge originalmente publicada no portal Vermelho no dia 26 de outubro de 2012.

sábado, 12 de janeiro de 2013

A Primavera Árabe e suas contradições



Por: Emir Sader
Há dois anos surgiu o mais espetacular movimento de massas que o mundo árabe já conheceu. Depois de amadurecer lentamente dentro de regimes ditatoriais, os povos tunisino e egípcio saíram às ruas de maneira rebelde e massiva, até conseguir derrubar duas ditaduras que tinham conseguido passar a idéia da sua perpetuidade.
Movimentos de jovens laicos foram a novidade de massas mais importante, quebrando a alternativa com que essas ditaduras tentavam perpetuar-se: ou elas ou regimes fundamentalistas islâmicos.
Mas depois desse protagonismo espetacular dos povos tunisino e egípcio, a primavera não conseguiu se estender ao conjunto da região. Ou melhor, suas tentativas encontraram repressões duras e até mesmo de tropas estrangeiras, ou desembocaram em bombardeios militares – como no caso da Líbia -, que substituíram as manifestações de massa – ou em enfrentamentos militares de parte a parte – como na Síria, entre atos terroristas e bombardeios militares.
O fim de um regime crucial para os Estados Unidos e o risco de que esse precedente se estendesse por toda a região, fez com que as potências ocidentais interviessem de forma direta e militar, levando à queda do regime de Kadafi e desviando assim a natureza inicial da primavera árabe para outros objetivos. A crise na Síria é uma derivação dessas manobras, em que os povos ficam afastados da capacidade de intervenção e de dar inicio à construção de regimes democráticos.
Ao mesmo tempo, eleições colocam novas autoridades nos governos - como nos casos da Tunísia e do Egito – que ainda não expressam as novas forças populares nesses países. Partidos que haviam sido tolerados durante as ditaduras – especialmente muçulmanos – ganham as eleições, mesmo se não com suas expressões mais radicais e governam sem ainda refletir as maiores novidades da primavera árabe, particularmente suas formas laicas.
Para que sejam regimes transitórios, não deveriam, como no caso do Egito, elaborar imediatamente uma nova Constituição, que tem o risco de impor ao país um molde religioso conservador e bloquear um processo aberto de construção da democracia nesses países.
Ao mesmo tempo, esses novos regimes nascentes não podem cair na tentação de acordos com o FMI que, ao contrário de atender seus graves problemas econômicos e sociais, os levará a recessões e a ainda mais graves crises sociais.
São processos ainda abertos e tomara que permaneçam assim por um bom tempo, para que as forças novas, jovens, laicas, possam se organizar melhor e disputar a condução desses processos.

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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Henri Cartier-Bresson


O blog Filosofia UEFS está neste momento inaugurando uma nova seção, onde serão postados filmes, fotografias e textos literários.
Para esta inauguração, trazemos uma obra de Henri Cartier-Bresson, de 1947, sem título, tirada em Nova York. Cartier-Bresson foi um fotógrafo francês, que viveu no "século da imagem". Responsável por alguns dos trabalhos mais notáveis da fotografia, Cartier-Bresson, registrou alguns fatos e pessoas que marcaram o século XX, tais como a revolução chinesa, os últimos momentos de Gandhi e a libertação de Paris ao fim da segunda guerra mundial, além de ter registrado Camus, Sartre e Faulkner, em algumas das fotografias mais conhecidas e divulgadas do mundo.
Os créditos nem sempre são dados aos criadores de tais obras, e é para isso que servirá este espaço.

para mais informações:

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Entrevista com Slavoj Zizek



Slavoj Zizek é um filósofo esloveno conhecido em todo o mundo por sua reformulação do pensamento da esquerda e análise dos movimentos políticos que acontecem no mundo contemporâneo (a exemplo da Primavera Árabe e os movimentos de protesto na Wall Street após a crise financeira). A característica marcante de seus estudos é a união entre filosofia e psicanális, diversas vezes colocando analises de filmes e obras literárias para reforçar seus argumentos. Esta entrevista foi dada ao repórter Jorge Pontual, tendo ido ao ar no dia 31/01/2011, sendo disponibilizada no canal da editora Boitempo no youtube, responsável por publicar as obras do filósofo em território nacional.

domingo, 6 de janeiro de 2013

O elo perdido da comunicação


por: Vilém Flusser


Na situação imediatamente anterior à atual revolução das comunicações era possível distinguir três níveis comunicacionais na sociedade ocidental avançada. Sob critério temático, o nível superior constituía a cultura "universal", o médio a cultura "popular". Sob o critério dos códigos o nível superior se caracterizava por símbolos que eram relativamente bem convencionados (como o das ciências ou o das artes da elite), o nível médio por símbolos cuja codificação deliberada tinha caldo no esquecimento (os das ditas "línguas nacionais"), e o nível básico se caracterizava por símbolos jamais deliberadamente codificados (como eram os símbolos dos dialéticos, trajes ou danças típicas). Mas é sob critério estrutural que a distinção entre os níveis oferece o maior interesse.
O nível superior tinha a estrutura em árvore - círculos dialógicos ligados entre si por discursos ramificados. O nível médio tinha a estrutura piramidal - discurso retransmitido por relatos hierarquicamente organizados. E o nível básico tinha a estrutura de mosaico (círculos dialógicos mutuamente isolados). Exemplos de árvores são, por exemplo, universidade, laboratórios, tendências em pinturas. Exemplos de pirâmides: escolas medias, exércitos, partidos. Exemplos de mosaicos seriam aldeias, seitas, tribos. A comunicação em árvore se caracteriza pela progressiva produção de informação nova, a piramidal pela preservação da informação disponível, a de mosaico pela distribuição dialógica de informação disponível. A dinâmica da árvore é a da historia, linearmente progressiva. A dinâmica da pirâmide é autoritária, verticalmente conservadora e a dinâmica do mosaico é pré-histórica, circularmente participatória.
A sociedade ocidental anterior a atual revolução integrava os seus três níveis de comunicação da seguinte maneira: o nível superior elaborava informação nova, o nível médio a transmitia em direção ao nível básico, e este a integrava na memória da sociedade. Tal descrição da dinâmica da comunicação é esquemática, porque despreza o feedback complexo entre os três níveis, mas por ser esquemática facilita a compreensão da cena. Em tal cena cabia a classe média, papel relativamente bem definido. Ela era portadora das várias culturas nacionais, traduzia as informações elaboradas pelo nível superior nos códigos das línguas nacionais, e as transmitia, assim transcodificadas, para o nível básico da sociedade. Foi neste sentido que a cultura ocidental era histórica como um todo, embora apenas o nível superior tivesse participado ativamente no processo da elaboração de informação nova. A classe média constituía o canal pelo qual a história informava o povo.
Tal papel desempenhado pela classe média lhe conforta caráter específico no contexto da sociedade. Era conservadora com relação ao nível superior (conservava as informações elaboradas), e revolucionária com relação ao nível básico (transmitia informação nova). Era apêndice do nível superior (servia-lhe de canal de transição), e autoritária com relação ao nível básico (constituía pirâmide da qual o último receptor era o povo). A posição da classe media no contexto da sociedade era, pois ambígua, era receptora de informações em cuja elaboração não participava, e era informadora do nível popular no qual tampouco participava. Isto explica a ideologilização, por vezes violenta, o seu nacionalismo, a sua dupla moral, o seu engajamento em movimentos revolucionários que constituiriam ameaça á sua própria sobrevivência. Em tal sentido o papel da classe média era o de suicida.
A atual revolução nas comunicações transformou a cena descrita. Consiste ela, fundamentalmente, na introdução de estrutura nova: a do anfiteatro. É ela estrutura que irradia as informações elaboradas no nível superior diretamente em direção da base da sociedade. Exemplos de anfiteatros: rádio, tevê, cinema. A árvore da comunicação superior está, doravante, ligada diretamente aos anfiteatros que funcionam como canais e como trans codificadores. Traduzem as informações novas em códigos a.D. Ho. elaboradas pelo próprio nível superior, e as transmitem rumo á base da sociedade.
O resultado é a destruição da cultura popular e sua substituição pela cultura da massa. A estrutura de mosaico se dilui, os diálogos circularem cessam, e a base da sociedade se transforma em massa passiva agitada pelas informações que sobre ela incidem a partir dos anfiteatros. Tal agitada, chamada ""opinião publica"", serve de feedback para os programadores dos anfiteatros, os quais são participantes da comunicação em árvore do nível superior.
Em tal situação, o nível médio da comunicação, a classe média, deixa de desempenhar papel funcional, e passa a ser anacronismo. Os atuais remanescentes da classe média são testemunhas de situação superada pela revolução em comunicação exatamente como os são os remanescentes da antiga popular, espécie de folclore. O fato é, por certo, encoberto por densa neblina ideológica, espalhada pelos anfiteatros, mas análises, como aqui esboça, podem contribuir para a dissolução de tais neblinas. Em suma, na situação atual a classe média não mais desempenha papel comunicológico essencial para a manutenção da sociedade, e deverá, mais cedo ou mais tarde, mergulhar, na cultura da massa. A situação atual exige somente dois níveis de comunicação, o dos elaboradores e dos programadores de informação, e dos receptores e programadores.
Publicado originalmente em "Folha de São Paulo" 31/08/1980