Arthur Schopenhauer
Livro III
Apresentado no primeiro livro como pura representação,
objeto para um sujeito, consideramos o mundo no segundo livro por sua outra
face e verificamos como esta é vontade, que unicamente se mostrou como o que aquele
mundo é além da representação; em conformidade, denominávamos o mundo como
representação, no todo ou em suas partes, a objetividade da vontade, quer dizer: a vontade tornada
objeto, i.e. representação.
Recordamos também que tal objetivação da vontade possuía graus numerosos, porém
determinados, em que, com clareza e perfeição gradualmente crescente, a vontade
surgia na representação, i.e. se
apresentava como objeto. Reconhecíamos as ideias de Platão em tais graduações,
na medida em que estas são as espécies determinadas, ou as formas e
propriedades invariáveis originárias de todos os corpos naturais, orgânicos ou
inorgânicos, como também as forças genéricas se manifestando conforme leis
naturais. Tais ideias, portanto, se manifestam em indivíduos e particularidades
inumeráveis, comportando-se como modelo para estas suas imagens. A
multiplicidade de tais indivíduos é concebível unicamente mediante o tempo e o
espaço, seu surgir e desaparecer unicamente mediante a causalidade, em cujas
formas reconhecemos somente as diversas modalidades do princípio de razão,
princípio último de toda finitude, toda individuação, forma geral da
representação, tal como esta se dá na consciência do indivíduo como tal. A
ideia, porém, não se submete àquele princípio: por isto não experimenta
pluralidade nem mudança. Enquanto os indivíduos em que se manifesta são
inumeráveis e nascem e perecem incessantemente, ela permanece invariavelmente a
mesma, e para ela o princípio de razão não possui significado algum. Mas como
este é a forma sob a qual se encontra todo conhecimento do sujeito, enquanto
este conhece como indivíduo, assim as ideias se
localizarão totalmente fora da esfera do conhecimento do sujeito como tal.
Portanto, se as ideias devem se tornar objeto do conhecimento, a condição é a
supressão da individualidade no sujeito cognoscente. Esclarecimentos mais
acurados e pormenorizados sobre este assunto nos ocuparão a seguir.
Para continuar lendo:
Um comentário:
É tarefa difícil ler somente o livro três do "Mundo como vontade e como representação" (que alias, a editora UNB lançou com tradução e notas de Jair Barboza) e tirar conclusões a respeito da Filosofia Schopenhauriana. Mas também diria que tal leitura sem antes conhecer o "Über die vierfache Wurzel vom zureichenden Grunde" (Sobre a raiz quadrupla do princípio de razão suficiente - disponível apenas em alemão; inglês, pela Editora da Universidade de Cambridge; e em Espanhol) é inútil.
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